Nos
dias de hoje, é inaceitável qualquer tipo de discriminação contra uma pessoa ou
grupo de pessoas, ainda mais quando o ambiente é o futebol. Esporte mais
seguido e praticado no Brasil, o futebol é um dos meios de se tirar um jovem do
caminho da crime, das drogas.
Mas, em
pleno 2014, alguns indivíduos ainda insistem em tornar o racismo ou outras
formas de discriminação em uma prática cotidiana. Recentemente, o país assistiu
aos casos envolvendo os meias Tinga, do Cruzeiro, e Arouca, do Santos, que
foram chamados de macaco em jogos pela Libertadores, no Peru, e em Mogi das
Cruzes (SP), pelo Paulistão, respectivamente, e também do árbitro gaúcho Márcio
Chagas da Silva, que encontrou bananas colocadas em cima do seu carro por
torcedores que não gostaram da sua arbitragem no Estadual do Rio Grande do Sul.
Na última
terça-feira (4), mais um caso foi registrado no Brasil e, desta vez, a vítima
foi um baiano. Em duelo pela Copa do Brasil Feminina, onde foi derrotado e
eliminado da competição pela Ferroviária (SP), o São Francisco viveu dia de
horrores em Araraquara (SP).
No
gramado do estádio Arena da Fonte, as jogadoras do clube baiano ouviram
insultos do tipo: "Todo nordestino tinha que ser exterminado",
"porcos" e "pobres miseráveis" de parte da torcida
adversário.
E as
agressões não foram apenas verbais. Não satisfeitos com o ato discriminatório,
cerca de 40 torcedores do time paulista ainda agrediram a delegação da equipe
de São Francisco do Conde com objetos como sapato e garrafa de água. Uma
bateria de celular atingiu o rosto do técnico e coordenador do futebol feminino
do São Francisco, Mário Augusto, que levou um corte.
Indignado
com o ocorrido, Mário, um dos principais colaboradores do futebol feminino na
Bahia divulgou um comunicado oficial (confira ao final da matéria) clamando por
justiça e o fim da discriminação. A proposta foi inteiramente amparada pela
Federação Bahiana de Futebol (FBF).
Em
apoio ao seu filiado, o presidente da entidade Ednaldo Rodrigues, repudiou o
comportamento do grupo de torcedores. Assim que tomou conhecimento do ocorrido,
o dirigente notificou a CBF e o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).
O caso
já chegou ao conhecimento dos presidentes da CBF, José Maria Marin, e do STJD,
Flávio Zveiter, além do procurador geral do Tribunal, Paulo Schimitt. "A
FBF dará total apoio ao São Francisco. Casos como esse têm que deixar de
existir no futebol brasileiro, não temos mais espaço para essas práticas e nós
já estamos fazendo nossa parte na Bahia, com placas e campanhas publicitárias
contra o racismo e todo tipo de discriminação durante os jogos do Baianão. Em
todos os jogos teremos campanhas como o “Diga Não ao Racismo”. A Federação vai
defender com todas as suas forças o filiado e o caso será julgado pelo
STJD", destacou Rodrigues.
Confira
abaixo o comunicado emitido por Mário Augusto:
"Bom
dia,
É com muita
tristeza que informamos a nossa derrota na partida de volta das 4ª de finais da
Copa do Brasil e, com mais tristeza ainda, informamos que reconhecemos a
qualidade da equipe da Ferroviária de Araraquara.
Mas não
podemos aceitar é que, desde que entramos em campo para o aquecimento, a nossa
equipe era agredida de maneira humilhante, pois nos chamavam de 'nordestinos',
'pobres miseráveis', 'porcos' e que 'o Nordeste tinha que sumir do mapa'. Até
aí tudo bem... Pedi às atletas que não dessem atenção. Após o início da
partida, um grupo de mais ou menos 40 torcedores ficou atrás do nosso banco de
reserva, cerca de três metros de distância, ficou a partida toda nos agredido
de forma humilhante, pois nos chamavam de parte suja do país e o pior diziam
que: TODO NORDESTINO TINHA QUE SER EXTERMINADO DO BRASIL. Isso era dito desde
do inicio da partida até o fim.
Como
percebi que isso não era um xingamento normal dentro de um estádio de futebol,
pedi à árbitra o policiamento (deu para perceber que era cerca de 07 ou 08, no
máximo). A mesma me disse que a única coisa que podia fazer era pedir que 02
policias se colocassem próximo ao nosso banco de reserva e, se nos agredissem
com algum objeto, eu chamasse a 4ª arbitra para informar. Mas referente às
agressões de forma racista e preconceituosa, a mesma não poderia fazer nada.
Mesmo
com os policias próximos, esses torcedores não pararam com seus xingamentos
preconceituosos. Após o termino da partida, esses mesmos policias foram dar a
tradicional proteção ao quadro de árbitros e com isso as agressões passaram a
ser físicas, jogando objetos, tanto que, quando percebi que seríamos agredidos
com objetos, pedi que nossas atletas e o restante da comissão saíssem mais
rápido da proximidade da torcida assim que a árbitra apitasse o fim da partida.
Mas nem deu tempo. Quando iniciamos a retirada, os objetos já foram
arremessados em nossa direção e, infelizmente, uma bateria de celular pegou em
meu rosto e fez um corte acima do nariz.
Automaticamente,
me dirigi ao policiamento para mostrar a agressão. Só me pediram que nosso
grupo se dirigisse ao vestuário o mais rápido possível, porque eles eram poucos
e nada iriam poder fazer, então ficaram na entrada do túnel e não adiantou de
nada, pois jogaram até sapato, laranja e garrafa de água.
Fico
sem entender o motivo de tanto ódio desses torcedores, pois se o seu time já
tinha ganho a partida por que tanto ódio?
Informo
que o sr. Fabrício, responsável pelo Esporte na cidade, foi até o hotel onde
estávamos hospedados e o mesmo foi pedir desculpas pelo comportamento agressivo
e preconceituoso da torcida local.
Outro
absurdo foi quando o placar estava 3x0 e o sistema de som do estádio já estava
anunciando a classificação da equipe e pedindo aos torcedores que aplaudissem a
equipe local antes do fim da partida. Talvez isso tenha sido um dos motivos das
agressões.
Mais
uma vez, em nome de todo grupo, queremos agradecer pelo grande apoio ao futebol
feminino da Bahia por parte da FBF, especialmente ao Sr. Ednaldo Rodrigues.
GRATO,
Mário
Augusto
Técnico
e coordenador do futebol feminino de São Francisco do Conde"
Por
Yuri Barreto - Comunicação FBF
Foto:
Divulgação / E.C Vitória
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