quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O FUTEBOL E A PREFERÊNCIA NACIONAL

Um professor encontra-se na sala de aula e pergunta aos alunos: “Quem acha que o Futebol é o esporte mais praticado em nosso país?”; e 40% deles levantam a mão. Já 35% acreditam ser o Rugby, enquanto 20% votam no vôlei e 5%, a galera do fundão, grita em coro: “Peteca!”. Em que país isso poderia ter acontecido? Na Inglaterra – de onde saiu o futebol moderno como o conhecemos – ou no Brasil, em anos vindouros.

Um cenário nada impossível por aqui, quando se observa os dados de um estudo da Deloitte, empresa do Reino Unido que tem uma rede de firmas-membro no mundo inteiro, as quais realizam serviços de consultoria, auditoria, dentre outros.

Foi feita uma pesquisa usando-se um questionário on-line no início deste segundo semestre, respondido por pessoas com perfis bastante variados, de todos os estados brasileiros. O objetivo era identificar os principais gostos, práticas, tendências e interesses esportivos.

Ao contrário do que poderia inferir o machismo ou a ignorância, deve-se apontar que a participação das mulheres não foi tão baixa. Elas representam 33% dos respondentes e eles são os outros 67%.

Dos opinantes, mais da metade (57%) é de classe média baixa ou acima. Quase 20% deles ainda estão na graduação universitária e 44% afirmam ter concluído o Ensino Superior. Embora São Paulo e Rio de Janeiro somem uma fatia considerável, a Bahia sozinha teve uma parcela de 2%.

Interesse

Sim, o Futebol é o esporte favorito no Brasil. Entretanto, apesar de essa informação ter acionado a região do cérebro responsável pelo ufanismo (e pelo tédio, por ler uma informação tão enraizada em nosso folclore), atentem-se aos números: está em 1º com razoáveis 78% (não esmagadores 99,99%).

O Vôlei, que raramente decepciona, tanto na categoria masculina quanto na feminina, fica na 2ª posição com 46% dos votos, seguido pela Natação, com 24%.

É importante ressaltar que no Vôlei, entre 1997 e 2010, a seleção já conquistou 4 medalhas olímpicas das 6 que disputou, e 5 medalhas nos 8 campeonatos mundiais. Esses quase 50% de predileção vêm muito a despeito do fato de receber cerca de 15 vezes menos exposição televisiva que o Futebol, tanto em canais abertos quanto nos fechados.

Curiosidade

Os esportes de inverno (hockey no gelo, ski, curling, etc) são os que mais despertam a curiosidade de pelo menos 45% desses internautas. Eles também apontaram que gostariam de ter mais contato com o Rugby.

Prática

Sem muita surpresa aqui, o Futebol é o mais praticado. Novamente, contudo, o índice difere da mitologia: apenas 32% (e não 110%) no universo dessa pesquisa.

Excetuando-se a preferência nacional, os cinco esportes com mais adeptos são: Corrida (cooper), Musculação, Tênis, Natação e Ciclismo. O Vôlei aparece logo depois.

Tendência

O Rugby, as Artes Marciais e o Vôlei, respectivamente, são os esportes que mais irão crescer, segundo a percepção dos votantes. O primeiro, embora tenha sido marcado como o menos conhecido de toda uma lista, é visto como um esporte que envolve muita força, agressividade e agilidade.

Alguns leitores, com leve espírito xenófobo – ou seja, com aversão a tudo que é estrangeiro –, podem pensar que se trata de mais uma moda de riquinho que gosta de tudo que é de gringo. Todavia, dentre os sujeitos interessados no Rugby, 52% têm renda familiar de até R$2.000 e desses, 48% jogariam. A propósito, ele é praticado por aqui há 100 anos.

As Artes Marciais têm ganhado destaque recentemente, especialmente por conta do corinthiano Anderson Silva, campeão de Mixed Martial Arts (MMA) da Ultimate Fighting Championship (UFC).

Até a realização dessa pesquisa da Deloitte, as lutas e o MMA dividiam opiniões. Cerca 49% das pessoas diziam gostar (muito ou pouco) e 48% diziam não gostar de MMA (Vale Tudo). Com as lutas (como Jiu Jitsu, Karatê, etc), esses números são 56% e 40%.

Outras considerações

Coincidentemente ou não, o esporte de Anderson Silva, o Spider, é atualmente um dos itens da pauta de uma novela. O próprio lutador – que chegou a ser dançarino no último videoclipe de Marisa Monte – gravou algumas cenas ao lado de Dudu Azevedo, que interpreta Wallace Mu e na ocasião tentava recuperar o cinturão, enfrentando um tal de Jorge Muralha.

O Tênis, o 2º esporte mais televisionado no Brasil – em especial nas redes fechadas, devido à duração das partidas –, é visto como um esporte da elite, embora seja o 4º mais praticado e mais admirado. A pesquisa traz um dado da revista Tênis Brasil, segundo o qual há 1,5 milhão de praticantes no Brasil, e ainda que existam 7.800 quadras disponíveis, somente 240 são públicas. Esse é outro esporte que será alvo dos folhetins.

O fato de o Futebol não ostentar números absolutos nesse estudo não é o Apocalipse. Não quer dizer que o desinteresse é crescente e preocupante, nem que de fato se trata de uma queda de interesse. É necessário ver isso sob outros aspectos.

A República Federativa do Brasil busca se lançar como potência internacional e alcançar uma inserção permanente tanto nas competições quanto nas cooperações entre os países. Isso quer dizer que a nação necessita transparecer vigor e segurança em todas as áreas, não só econômica e politicamente, como na parte cultural – e esporte é cultura também, como é sabido.

Embora seja barato comprar qualquer bolinha de R$1 para “bater o baba”, igualmente prático é colocar um tênis e sair a correr todo dia e, quem sabe, manter um bom treinamento a fim de testar o potencial na Corrida de São Silvestre, por exemplo. E nem é preciso se formar um time para isso, basta a vontade de uma pessoa.

Pode-se até concluir que, do mesmo modo que o Futebol começou como esporte elitista e se popularizou, outras modalidades desportivas podem encontrar esse destino.

Há de se pensar num nível macro, nacional, e abolir o preconceito com relação a outros tipos de competições. O Futebol sempre ajudou incontáveis jovens a batalhar por uma vida mais saudável e menos arriscada, apartando-os das drogas.

É verdade que nem todos atingem níveis astronômicos de fama, contudo se há outros meios, o que importa não é discutir quais desportos reúnem mais seguidores, nem quais estão mais nas graças do povo ou geram mais receita. Nada disso importa quando o único jogo é batalhar pela escolha da Saúde.

Fonte: Caloan Guajardo - Comunicação FBF em 06/10 - em Destaque

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